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31.1.14

A ESPERANÇA DOS OLHOS VERDES - PARTE IV



O Santa Maria estava a chegar a Alcântara. Na amurada do navio, destacava-se do mar de gente que se preparava para o desembarque, um homem alto, bem vestido, aparentando uns cinquenta anos, que olhava a cidade com um ar cansado.
Lisboa, a bela cidade, que deixara há quase três décadas quando partira para o Brasil em busca de fortuna. Quantas asneiras se fazem na juventude quando a ambição nos domina! O Chico era muito jovem quando perdera os pais. Os primeiros anos vivera com um tio sapateiro, com quem aprendera o ofício. Quando o tio morrera, o Chico ficara com a pequena oficina onde confeccionava ou arranjava o calçado. Foi nessa altura que conheceu a Esperança. Era a moça mais bonita do bairro. Tinha uns grandes olhos castanhos docemente amendoados. Conheceram-se e amaram-se no mesmo instante. O Chico era um belo rapaz, com um ar altaneiro, que fascinava as moças casadoiras e as deixava suspirando pelos cantos. Mas ele só tinha olhos para a sua Esperança.
Durante dois anos, trocaram juras de amor, sonhando com um futuro a dois muito feliz.
Mas o negócio não corria bem ao Chico, cada vez mais os fregueses optavam por comprar sapatos feitos, em vez de os mandarem fazer, e ele ouvira falar do Brasil e das muitas oportunidades de conseguir fortuna lá. E um dia decidiu-se. Vendeu a oficina e comprou a passagem. Com tudo decidido, procurou a namorada e falou-lhe da viagem, dos seus sonhos de riqueza, da separação que teriam de viver em prol de um futuro melhor.
Ela chorou. Com intensidade, como fazem as mulheres que amam de verdade. Tentando consolá-la ele dizia que seria por pouco tempo. Logo que estivesse a trabalhar, arranjava casa e casavam por procuração. Depois, ela embarcava e ia ter com ele ao Brasil.
Chorosa, ela abanava a cabeça incrédula. Ele afirmava convicto:
- É verdade! Eu já vi isso num filme.
Antes da partida, Esperança quis dar-lhe as duas únicas coisas que tinha de valor. Uma medalhinha em ouro que a mãe lhe dera dias antes de morrer, dizendo que era para lhe dar sorte, e a sua virgindade.
Ele aceitou emocionado e partiu chamando-lhe “a minha mulherzinha”. Ela ficou no cais sonhando com o dia em que fosse ela a embarcar para ir viver com o seu homem.
No Brasil, o Chico fora bafejado pela sorte. Conheceu um conterrâneo que já tinha “feito a vida” e que queria regressar. Simpatizou com ele e deixou-lhe um pequeno restaurante para que o Chico começasse a vida. Ele nem queria acreditar mas o homem dissera que como não tinha filhos podia ajudar o filho de um homem que muitos anos atrás fora seu companheiro de brincadeiras. Ele tinha mais do que precisaria para regressar e viver bem até ao fim dos seus dias.
Quando a vida começa a ser muito fácil, um homem perde-se. O Chico tinha condições agora para chamar a mulher que ,lá longe, só sonhava com esse dia. Mas não o fez. Quis mais. “Quando eu for rico, chamá-la-ei e dar-lhe-ei uma vida de rainha”- pensava.
Trabalhou dia e noite, rodeou-se de alguns bons colaboradores e, em pouco tempo, o restaurante foi ampliado. Mais tarde comprou outro e depois outro.
Então decidiu aventurar-se noutros negócios e fez sociedade com um fazendeiro que possuía também uma fábrica de queijos.
O sócio, um viúvo idoso, só tinha uma filha, demasiado mimada, e muito dinheiro. Laura, a filha do sócio, tentava seduzi-lo e em pouco tempo o Chico tinha decidido casar com ela.

25.1.14

ESPERANÇA DOS OLHOS VERDES - PARTE III




                                                    Antigo fogão a petróleo


Deixei a frase incompleta e afastei-me. Tinha ficado pensativa. Eu não acreditava em bruxedos mas convenhamos que isto de uma pessoa ter olhos castanhos que viram verdes não era, de todo, normal.ª)  Com certeza que a velha já não se lembrava bem dos olhos da outra. A idade faz muitas confusões. O melhor era não pensar mais nisso.
Mas a verdade é que aquela mulher me intrigou desde a primeira vez que a vi. 
E como sempre me apaixonaram os mistérios, resolvi soltar o detetive que habitava um recanto da minha imaginação, e lá fui até à Prior do Crato.
Perguntei a várias pessoas se a conheciam. Ninguém sabia quem era. Comecei a pensar que a velha mulher dos amendoins sabia do que falava quando disse que ninguém lhe conhecia a morada. Quase a desistir, um garotito que jogava à bola, disse-me que a conhecia e indicou-me a casa.
Respirei fundo e, sem pensar, dirigi-me para lá. Bati. Uma mulher dos seus quarenta anos veio abrir. Pensei que o garoto me tinha enganado. E como o melhor remédio para o saber era perguntar-lhe, assim o fiz.
-Desculpe, mas disseram-me que morava aqui uma senhora que vende cartas - foi a primeira coisa que me veio à cabeça e confesso que não era uma ideia famosa, já que podia comprar cartas em qualquer papelaria.
– Decerto me enganaram - acrescentei ao ver que a mulher não parecia nem um pouco desconfiada.
- Ah! É aqui mesmo. É a Ti`Esperança. Mas ela está tão doente, coitadinha... Entre, entre, - convidou.
Entrei. A casa era muito pobre. Uma pequena saleta sem janela para a rua, mas com três portas. Uma dava para a rua, era aquela que eu acabara de transpôr. A outra dava para um pequeno cubículo onde se via um fogão a petróleo, e uma pia. A terceira dava para o quarto. Entre as portas uma mesa e dois bancos arrumados por baixo dela. No quarto,  sobre uma velha cama de ferro desconjuntada, com um puído lençol de linho, que já devia ter servido várias gerações, estava a enferma. Morta? Não fossem os seus olhos, eu diria que estava morta. Senti um arrepio….


ª)  Não esquecer que esta história aconteceu, nos anos 50 do século passado. Hoje com as lentes de contacto, não direi que é banal, mas qualquer um pode ter os olhos da cor que mais gostar.

19.1.14

ESPERANÇA DOS OLHOS VERDES - PARTE II


 foto da net

Pouco passava das dez da manhã, naquele dia soalheiro, quando desci do autocarro no Terreiro do Paço.
Confesso que fiquei surpreendida com o que vi pois, naquele momento, havia um movimento pouco usual entre os vendedores, que corriam de um lado para o outro, carregando enormes alcofas, as mulheres, com cestos à cabeça, procuravam ocultar-se atrás das grossas colunas da estação ou dentro das cabines telefónicas. Algumas metiam-se mesmo na gare dos cacilheiros ali mesmo ao lado.
- Que será que aconteceu? - Interroguei-me.
Mas logo os vi. Os fiscais, que de vez em quando rondavam aquela zona, pregando multas aos mais descuidados pois o comércio naquela zona era proibido. Nunca entendi por que não montavam ali uma ronda permanente e acabavam de vez com aquilo. Mas não! Apareciam e desapareciam como por milagre. Fui até ao bar e pedi um café enquanto esperava que os fiscais partissem. Quando eles chegavam não havia ninguém, mas assim que desapareciam de todos os cantos, apareciam os vendedores e era um ai enquanto abriam de novo as suas cestas e espalhavam os produtos em panos no chão ou em pequenas mesas de campismo que alguns traziam. Era assim uma espécie de jogo do gato e do rato.
Quando tudo serenou, procurei com o olhar a mulher dos olhos verdes, mas não a vi.
- Não veio hoje a mulher que vende cartas? – Perguntei à velhota dos amendoins.
- Não. Já ontem também não veio. Mas ali o meu “home” também vende cartas.
E apontava um velhote que vendia variadas coisas um pouco mais à frente.
- Obrigada, mas eu queria falar com ela -menti. – Acaso sabe onde mora?
-Não. Ninguém sabe ao certo, embora digam que mora ali para os lados de Alcântara, na rua Prior do Crato. A menina é parente? – Perguntou a medo.
-Não. Apenas me pediram para lhe dar um recado e queria fazê-lo.
-Bem – a mulher pareceu ficar mais à vontade ao saber que eu não era da família da senhora que eu procurava. A Esperança apareceu aí um dia a vender cartas e aí ficou. Já lá vão muitos anos. Olhe, ainda eu nem tinha cabelos brancos.
Olhei a sua cabeça completamente branca e pensei que na verdade já devia haver uns bons anos.
- Esperança, dos olhos verdes, - murmurei
A mulher continuou:
-Olhe menina, eu, se estivesse no seu lugar, esquecia-me desse recado. Eu não sei porquê mas não gosto dela. Às vezes, até chego a pensar que tem pacto com o demo. Passa horas e horas a olhar o mar e depois, sabe, há uma coisa que nem sei se lhe conte…
- Diga, diga, - pedi eu com mal disfarçada ansiedade.
A mulher hesitou mas por fim decidiu-se:
- Sabe - disse baixando a voz como quem vai revelar um segredo - é que a Esperança, quando para aqui veio, tinha uns olhos castanhos, amendoados, que depois ficaram verdes. Ora eu penso que uma coisa assim só por bruxedo.
- Muito obrigada. Se a vir dou-lhe o recado senão…

12.1.14

ESPERANÇA DOS OLHOS VERDES Parte I




 Foto da CP. Antigo barco de travessia Barreiro-Lisboa e vice-versa



- Ciiiiinco caaaartas, deeeez tostõeeees!       
Todas as manhãs, ao desembarcar no Terreiro do Paço, era sempre aquele o primeiro pregão que ouvia. Procurei com o olhar a dona do pregão. Não consegui vê-la. Mas sabia que ela estava lá, como de costume. A sua voz fazia-se ouvir entre o burburinho dos que todas as manhãs faziam a travessia do Tejo, nos barcos da CP. Gente que morava na progressiva vila do Barreiro mas que trabalhava em Lisboa, como eu.
Estávamos a meio dos anos sessenta e eu, que nascera no Barreiro, tinha começado a trabalhar em Lisboa, pelo que todos os dias fazia aquela travessia, excepto aos fins-de-semana. Trinta e cinco minutos em barcos que tinham o nome de alguns distritos de Portugal. Até aí, as idas a Lisboa sempre tinham sido para ver alguém hospitalizado ou para visitar alguma das minhas tias residentes na capital. Gostava de ver do barco o Cristo-Rei, que também via da minha casa desde miúda mas tão pequenino que mais parecia um brinquedo. Já na cidade não havia quem me arrancasse de junto das montras, onde tudo era novo e maravilhoso para mim. Mas os anos passaram, eu cresci e agora ali estava  a caminho do trabalho como todas as manhãs. Quem conheceu o Terreiro do Paço naquela época, sabe que ali havia um verdadeiro mercado ambulante.
Mulheres e homens vendiam bananas, amendoins, bolos, lenços, roupas de bebé, bonecas, brincos, pentes, braceletes, rádios, óculos e muito mais.
Foi então entre todo aquele burburinho que ouvi:
-Ciiiiinco caaaartas, deeeez tostõeeees!
Olhei e vi-a. Era uma mulher que talvez não tivesse mais de quarenta anos, embora aparentasse muitos mais. Mas é sempre difícil saber ao certo a idade das pessoas para quem a vida foi madrasta. Envelhecem mais depressa pelos trabalhos e provações por que passam.
Franzina, de pele morena, poderia ter sido muito bonita na juventude, mas já não lhe restava nada dessa beleza. Poderia até ser considerada uma mulher vulgar não fossem os seus maravilhosos olhos verdes, de brilho intenso, como se neles se concentrasse toda a juventude que o seu corpo deixara para trás há muito.
Fiquei fascinada com aqueles olhos. Reparei que olhava repetidas vezes para o mar, porém não podia ficar ali mais tempo a contemplá-la pois estava na hora de ir para o trabalho.
Mas todos os dias, ao ouvir o seu pregão, não podia deixar de olhar a mulher enquanto imaginava bonitas histórias de amor em que ela era a protagonista. Foi assim que um dia me apercebi que os olhos verdes da mulher ficavam às vezes de um tom azulado, tal como o mar em dias de calmaria.
Chegou o mês de Agosto e, como todos os anos, o laboratório onde eu trabalhava, encerrou para férias. Decidi passá-las em Lisboa, em casa dos meus tios, já que não dispunha de verba, nem autorização dos pais, para ir para qualquer lugar sozinha. Com os meus tios gozava de ampla liberdade enquanto não arranjasse namorado. Como tinha passe dava, de vez em quando, umas voltas pela cidade. E foi nessa altura que me ocorreu descobrir se as minhas fantasias a respeito da vendedora de cartas tinham algum fundamento. Tomada a decisão, logo a coloquei em prática.

8.1.14

SER FELIZ







Ser feliz...
é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo...
É ter coragem para ouvir um "não"...
É ter segurança para ouvir uma crítica,
mesmo que seja injusta...
É beijar os filhos, curtir os pais, e ter
momentos poéticos com os amigos,
mesmo que eles nos magoem...

Ser feliz é deixar viver a criança livre,
alegre e simples que mora dentro,
de cada um de nós...
É ter maturidade para falar "eu errei"...
É ter ousadia para dizer " me perdoe"...
É ter sensibilidade para expressar " eu
preciso de você"...
É ter capacidade de dizer " eu te amo"...

Desejo que a vida se torne, um canteiro
de oportunidades, para você ser feliz...
E quando você errar o caminho,
recomece tudo de novo...
Pois assim você será cada vez mais
apaixonado pela vida.
E descobrirá que...
Ser feliz não é ter uma vida perfeita...
Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância...
Usar as perdas para refinar a paciência...
Usar as falhas para esculpir a serenidade...
Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência...

Jamais desista de si mesmo...
Jamais desista das pessoas que você ama...
Jamais desista de ser feliz...



(autor desconhecido)


Recebi por email. Embora não seja hábito, postar artigos que não sejam meus,  ou que não o sendo, também não estejam identificados. Ainda assim como achei este texto interessante e resolvi partilhá-lo. Afinal ser feliz é desejo da humanidade.

6.1.14

EUSÉBIO DA SILVA FERREIRA

                                                                     Foto da net

Não costumo falar de futebol neste espaço.  Não é o meu desporto favorito, embora já tenha assistido ao vivo em alguns jogos. Os adeptos têm os seus gostos e o seu clube favorito, que raramente coincide com o meu e gostos respeitam-se não se discutem.  Porém não posso deixar de assinalar esta data como uma data triste para todos os portugueses. Eusébio, não foi só o melhor jogador português de todos os tempos e um dos melhores do mundo. Com a sua arte e o seu talento ele deu a conhecer ao mundo este pequeno País. Vi-o jogar uma única vez ,e até eu que pouco entendo de futebol fiquei deslumbrada. Que descanse em Paz. À família enlutada, e a todos os benfiquistas deixo os meus pêsames.

Morreu o Rei, Viva o Rei.