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4.3.16

MANEL DA LENHA - PARTE XXIV

Nota: O capítulo anterior, sofreu uma alteração. Tenho ideia da minha mãe me ter falado no hospital de Almada, mas ontem falando com minha tia, viúva do tio João em casa de quem ficámos, ela me disse que a minha mãe terá ido para S. José, em Lisboa. A minha tia tem actualmente 97 anos e está perfeitamente lúcida


foto do google


A mulher do Manuel esteve 45 dias no hospital. As crianças, incluindo o cunhado foram cuidadas pelo irmão João e pela mulher deste. Na verdade as crianças até gostaram daquele tempo. A casa dos tios era de pedra, tinha até luz eléctrica, e depois havia os primos e as outras crianças vizinhas para brincar. O Manuel ia sempre que possível ver a mulher. Fora-lhe feita uma histerectomia total com anexotomia bilateral. Já não tinha hemorragias, e a anemia estava quase curada. Mas o médico dissera que não podia voltar a ter filhos.
 Ele não se importava. O que ele queria era saúde para trabalhar e não faltar com o pão aos que já tinha. E ver a companheira curada.  O resto pouco lhe importava.
 Quando a mulher veio para casa, já não parecia a mesma. Estava  sempre triste. Sem instrução pensava que já não prestava como mulher, por ter a barriga “vazia” . Na verdade muitos anos mais tarde ainda dizia que deixara de ser mulher com 27 anos…
 No final de Setembro, chegou o primeiro bacalhoeiro, e o José Varandas veio com a novidade de que a mulher estava outra vez “prenhe”.
 No barracão do Manuel, a mulher estava fisicamente recuperada, e preparava-se para a nova safra que se iniciaria em breve.
 No Natal desse ano, os sogros do Manuel vieram passar a consoada com eles. Trouxeram uns chouriços, queijo e figos. Mimos a que as crianças não estavam habituadas mas que adoraram.
Nos dias que se seguiram puderam ainda experimentar, outro pitéu que desconheciam. Bom conhecedor das espécies comestíveis de cogumelos, o sogro do Manuel apercebeu-se de que no pinhal ali perto haviam bons cogumelos. Ele tentou ensinar ao genro, mas este temeroso de se enganar, nunca os apanhou em toda a sua vida,
Os sogros ficaram até meados de Janeiro e no inicio de Fevereiro, um violento nevão, cobriu o país com um manto branco, do Minho ao Algarve. As crianças que nunca tinham 
visto neve, fizeram uma festa.
Ainda em Janeiro os dois filhos mais novos do Manuel adoecem. primeiro o sarampo depois a tosse convulsa. As crianças estão muito fracas, o xaropes caseiros que vão tomando, primeiro de cenoura depois eucalipto, laranja fervida com vinho branco e mel. Nada faz efeito e a mãe desesperada faz promessa de os levar à procissão de Nª Senhora do Rosário, vestidos se anjinhos, se as crianças se curarem. Fosse por intervenção divina, fosse porque a fase pior da doença já tinha passado, ou pelo xarope de piteira e mel que ultimamente a mãe fazia, o que é certo é que as crianças se curaram. Estranho foi que a filha mais velha, sempre perto dos outros dois não tivesse ficado doente.






14 comentários:

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

As doenças perseguem esta pobre família.
Estou a gostar.
Um abraço e bom fim de semana.

chica disse...

Com as novas notas, vamos acompanhando a história! bjs, lindo dia! chica

Edum@nes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Edum@nes disse...

Pelo que li nesse capitulo. A vida de Manuel e sua família estava melhorando. Ainda bem que assim aconteceu. Mas a sua mulher não podia era ter mais filhos. Se já tinha 3 filhos e com as dificuldades que existiam para os alimentar. isso seria um mal menor, para evitar um mal maior!

Lembro-me bem desse nevão que cobriu o pais de de Norte a Sul, penso que foi dia 2 de Fevereiro de 1952?

Tenha uma boa tarde sem neve, amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

O jeito era usar a sabedoria que passava de um para outro, já que não existia farmácia por perto, e nem dinheiro pra comprar remédios!
E a fé ajudava muito!
Um grande abraço, Elvira, bom final de semana!
Mariangela

Laura Santos disse...

Muito curiosa a referência os remédios caseiros para tentar combater as doenças que mais tarde se combateriam com vacinas. Felizmente as crianças escaparam à alta taxa de mortalidade infantil da altura.
Bom fim de semana, Elvira.

Unknown disse...

Apesar das calamidades, adoro esta história.
Beijo*

Portuguesinha disse...

A elvira tem sorte por ter uma fonte de informação lúcida e valiosa perto de si.
Como sabe tentei descobrir historias minhas com os meus, mas não tive tanta destreza para fazer as perguntas certas nem tive os mais anciãos muito tempo por perto. Além de que, ninguém gosta muito de recordar esses tempos. A menos que dê um momento de pura nostalgia - aí desatam a contar com detalhes impressionantes o que lhes apetece. Quando percebo o que está a acontecer «corro» para usar o gravador... mas são momentos raros de apanhar.

Esse diagnóstico de "barriga podre" também foi dado à minha bisa, que mal conheceu os netos. Perguntei várias vezes o significado de "barriga podre". Não me souberam dizer em termos médicos. Minha bisa faleceu de "barriga podre" após uma cirurgia onde foi desenganada.... ia morrer. E morreu, no dia seguinte. A certidão tb não especifica e fiquei a pensar se era a «terrível» doença. Mas tvz não.

Acho que muitos que a lêm partilham histórias destes tempos até na 1ª pessoa - o que não pode ser o meu caso. Mas muito do que relata era o estilo de vida de várias famílias portuguesas. E tudo isso é uma herança que, mesmo que alguns não saibam, influencia as gerações seguintes.

Ainda bem que Gravelina sobreviveu.
Antigamente a diferença entre ricos e pobres era enorme mas existia um respeito pela vida e solidariedade que fazia com que os que tinham dinheiro se dessem a esses gestos cristãos. Se não fosse essa senhora, Gravelina ia definhar até o inevitável.

Patrícia disse...

Passei para lhe deixar um grande beijinho e desejar um ótimo fim de semana, muito obrigada pelas palavras, pelo conforto que me tem dado!

beijinho
www.blogasbolinhasamarelas.blogspot.pt

Rogério G.V. Pereira disse...

Testemunho o cuidado do rigor
posto no que nos contas

(97 anos? dá para nos perpetuar a memória)

Elisa disse...

Andando por aqui e deliciando-me com este conto.
Beijinhos
elisaumarapariganormal.blogspot.pt

Zilani Célia disse...

COM OS POUCOS RECURSOS DA ÉPOCA, SÓ APELANDO PARA OS REMÉDIOS CASEIROS MESMO.

http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Gaja Maria disse...

Tudo lhes acontece coitados. Beijinho Elvira

Rosemildo Sales Furtado disse...

Parece que eu estava certo quando afirmei que as coisas iam melhorar. Gostando e aguardando os acontecimentos.

Abraços,

Furtado.