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12.12.17

ENTÃO E EU?





Mulheres atarefadas

Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.
— Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
– Está bem, eu sei!
– E as garrafas de vinho?
– Já vão a caminho!
– Oh mãe, estou pr’a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
– Não sei, não sei…
Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
– Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!
Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
– Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
– Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
– Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
– Foi este o Natal de Jesus?!!!


João Coelho dos Santos in Lágrima do Mar – 1996

24 comentários:

_ Gil António _ disse...

Fantástica imaginação. Deliciei-me a ler
.
Hoje
Límpidas Gotas de Amor em execução de Carência
.
Deixando um abraço poético.
Votos de uma terça feiura muito feliz. Bom dia-
.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei bastante deste poema do João Coelho.
Uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Tintinaine disse...

Grande poema, sim senhor!
E é a mais pura verdade, a gente esquece-se que o Natal é muito mais que comer e beber.
E o homenageado fica esquecido num canto, sem ninguém lhe ligar a mínima atenção.

Rui disse...

É que é isso mesmo o que acontece. Natal cada vez mais "material" e menos "espiritual" ! :) ... Ele tem fundamentadas razões de queixa, é verdade ! :)

Abraço, Elvira

Anete disse...

Elvira querida, uma reflexão bonita e muitíssimo oportuna. O verdadeiro Natal anda esquecido! Sempre é tempo de despertar...
Uma boa semana... Abrações

Bell disse...

oi amiga

Não podemos esquecer do verdadeiro significado do natal.
Por vezes envoltos a presentes e comidas esquecemos de lembrar e agradecer.

bjokas =)

António Querido disse...

Todos os Cristãos se lembram dele, fazem o sinal da cruz e rezam, lembrando a sua passagem terrena ensinando a praticar o bem, mas foi há tanto tempo que 90% já não se lembra dele.
O Natal é sempre uma tarefa difícil para as mulheres, na escolha das prendas.

Que seja um Natal feliz para todas as famílias e crianças do mundo.

Lucinalva disse...

Olá Elvira
Lindo poema, Jesus é o verdadeiro sentido do Natal. Bjs querida.

Odete Ferreira disse...

Belíssima partilha. Bjinho

Vanessa disse...

Uma linda partilha, mostra como o verdadeiro espírito de Natal deve ser enaltecido.
Tenha uma ótima terça feira.

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida amiga Elvira!
Uma grande verdade que acontece em muitos Natais por aí...
Conto muito bem elaborado e emociona com lágrimas nos olhos ver que Jesus é tão esquecido não só nesta festa como em outras cristãs por excelência...
Seja muito feliz e abençoada!
Bjm de paz e bem

Lua Singular disse...

Oi Elvira,
Não festejo dia de nada, é só para enriquecer o comercio.
As orações cada um faz a sua e a última é só agradecer
Adorei
Beijos
Lua singular

Janita disse...

Que belo e verdadeiro texto poético! Senti-me abrangida nesse lamento de Jesus, nesse dia em que se celebra o seu nascimento, ninguém se lembra do Menino, nascido numa manjedoura e que, trinta e três anos mais tarde, morreu, pregado numa cruz.

Um grande abraço e obrigada, Elvira.

Teresa Isabel Silva disse...

Adorei ler! Muito bom!

Bjxxx
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Graça Sampaio disse...

Muito giro o poema! (tenho de copiar para o meu caderninho...)

Beijinho ao Jesus-Menino!

Edum@nes disse...

A esse belo poema respondo com a seguinte quadra:

Então e eu triste nada dizia,
quando era criança lá estava
vendo quem prendas recebia
para mim nenhuma sobrava!. . .

Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Diana Fonseca disse...

E que bela noite de Natal.

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, Elvira!
Gostei muito. Muito próprio para esta época do ano. Parabéns.
Um abraço.
Pedro

lis disse...

Que poema bonito Elvira
_ e como é verdadeiro toda a celebração em torno de um esquecido.
Adorei .
Parabéns pela escolha e pelo autor/poeta.
Beijo

Pedro Coimbra disse...

Se o meu amigo Luís Sequeira, padre Jesuíta que celebrou o meu casamento, lesse este post perguntava o que eu costumo perguntar - onde é que eu assino?
Um abraço

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
todos nós que lemos este poema , vamos prometer que não nos vamos esquecer deste Natal .
JAFR

Isa Sá disse...

Muito bem!


Isabel Sá
Brilhos da Moda

Larissa Santos disse...

Um poema cheio de grandes verdades. :) Adorei!


Hoje:-Carta de amor...

Bjos
Dia Feliz

Os olhares da Gracinha! disse...

Não conhecia mas gostei!!!bj