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1.3.18

CARLOTA - FINAL








O problema é que António queria casar, e Carlota não o podia fazer, pois já era casada.
 E em Portugal naquela época, não havia divórcio. Porém quando um homem e uma mulher se amam de verdade, não há obstáculo, intransponível.
Depois de algumas saídas, em que ambos falaram das suas vidas, das más experiências, da dor porque cada um passou, e dos sonhos que ainda queriam viver, Carlota, pensou, que devia aproveitar a oportunidade que a vida lhe dava, e ser feliz. E decidiu ir viver com António. Foi um escândalo, pois naquela época dizia-se que viver amancebado, não era para os animais, não para os cristãos. Além das discussões com a irmã e o cunhado, choveram cartas do resto da família, dizendo a Carlota para ter juízo, era um escândalo, e um pecado. Afinal ela era casada, e tinha jurado fidelidade ao marido. Ela não se importou. Tinha-lhe sido fiel, durante anos, sem nem sequer saber por onde ele andava, e apesar de todo o sofrimento que ele lhe infligira, durante o pouco tempo de vida em comum. Pela primeira vez na vida estava apaixonada. Sentia que todo o seu corpo vibrava, quando António a beijava, sentia desejo das suas carícias, queria sentir-se amada. Embora aparentasse pouco mais de trinta, ela ia fazer em breve quarenta anos. Sabia o que sentia, e o que queria. E o que ela queria era ser feliz. Preocupava-se com a opinião do filho, e por isso apressara-se a mandar-lhe uma carta, dando conhecimento das suas intenções e pedindo a sua aprovação. Na volta, o filho escrevera, "seu coração seu mestre, minha mãe. Faça o que ele lhe ditar". E foi o que ela fez. Arrendaram uma casa nos Olivais e juntaram os trapinhos no início de Abril do ano da graça de mil novecentos e setenta e quatro.
Apesar dos seus sentimentos, e do desejo que a invadia, cada vez que António a beijava, Carlota temia a intimidade da primeira noite, não só pela violação que sofrera, mas também por que a vida amorosa com o marido, fora sempre uma penosa obrigação. Sabendo o que ela sofrera anteriormente, e homem experiente, António, pôs em prática todo o seu conhecimento do que deve ser uma noite de amor, fazendo com que Carlota, fosse relaxando, substituindo o medo, pelo desejo, até acordar a mulher adormecida que havia dentro dela, e fazer com que se entregasse por completo.
Nunca, nem nos seus sonhos mais loucos, ela pensara que se podia sentir e viver a intimidade daquela maneira.
Dias depois,o calendário assinalava o vinte e cinco de Abril, o país acordava com a revolução,  que mudaria o destino do povo português.
E com ela, não foi só o medo que se perdeu, nem a guerra que acabou. Com a revolução vieram novas ideias, as mentalidades como que se abriram. O povo começou a achar normal, situações, que até aí foram censuradas. A mulher ganhou uma nova dignidade, deixou de ser considerada uma propriedade do marido.
Carlota era agora uma mulher feliz. Deixara de trabalhar. António, gostava que ela se dedicasse apenas à casa, ele tinha um pé-de-meia, amealhado nos anos de emigração, alugara uma oficina e trabalhava por conta própria. Era um bom mecânico, não lhe faltava trabalho.
Entretanto Carlota soubera que havia campanhas de alfabetização, e resolveu aprender a ler. O filho voltou da Guiné, conheceu o companheiro da mãe, que o tratou com cordialidade, e lhe disse que haveria sempre  naquela casa,  um quarto e um lugar na mesa para ele. Mais, se quisesse aprender o ofício, haveria lugar para ele na oficina. João agradeceu, dizendo que tencionava seguir a carreira militar, e despediu-se pensando que a mãe tivera muita sorte em encontrar um homem bom como António.
Depois, novos políticos, novas leis, o divórcio chegou a Portugal, e Carlota pode enfim pôr um ponto final no seu casamento, e casar com António, embora só no registo. Mas no íntimo ela estava em paz, Acreditava que se Deus pusera o marido no seu caminho, queria que ela fosse feliz. E ela era-o. O resto não lhe interessava.



Fim


Elvira Carvalho



Nota: Amanhã vou sair. Num passeio de estudo que mostrarei como sempre no blogue de imagens. Por isso o final do conto entra hoje. Espero que gostem. 



34 comentários:

A Nossa Travessa disse...

Minha querida Elvirinhamiga

Naturalmente o Happy End.

Continuas a ser uma escritora maravilhosa, e já nem te pergunto para quando o romance? Sim, porque novela? Não, minha Senhora. Vossa Insolência vai mesmo escrever um romance, e deixa-te de tretas: é uma ordem! :-)))

Bom, declara quantos dias vai durar o passeio de estudo e da volta vais começar o primeiro fascículo do romance.

Muitos qjs do teu amigo e admirador

Henrique, o Leãozão

noname disse...

Um final merecido para todas as Carlotas deste mundo.

Beijinho e bom passeio

chica disse...

Que bom tudo acabou bem pra eles... Gostei de acompanhar! beijos, bons passeios e muitos cliques amanhã! chica

Cidália Ferreira disse...

Muito bem! Amei este final. Há sempre tempo para se ser feliz. Não importa a idade.!!

Parabéns, Elvira!

Beijos

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Eu gostei muito deste conto e da forma como finalizou. A Carlota merecia ser feliz.
E viva o 25 de Abril que tanto nos deu.
Beijinhos,
Ailime
(Excelente passeio e muitas fotos) !

Anete disse...


Elvira, bom passeio para você...
Gostei muito do fim do conto da Carlota! Torci por ela e fico feliz porque encontrou um bom companheiro e a felicidade os abraçou!...

Beijo

Zé Povinho disse...

Tudo está bem quando acaba bem!
Abraço do Zé

Graça Sampaio disse...

E fez a Carlota muito bem!! Bom passeio. Espero que não chova como quando vieram a Leiria...

Fico à espera das fotos. Beijinho.

Cantinho da Gaiata disse...

Nunca é tarde para amar, gostei muito de ler mais uma história como muitas que há por aí escondidas.
A Carlota merecia.
Parabéns e venha o próximo.
Bom passeio e cuidado com a chuva.

Luis Eme disse...

Grande Elvira!

Abraço e bom passeio.

Kique disse...

Grande Final
Bjs
https://caminhos-percorridos2017.blogspot.pt/

Pedro Coimbra disse...

Falta o próximo passo - permitir aos divorciados voltarem a casar na Igreja se assim o quiserem.
Mas, quando há um cardeal patriarca que nem quer que sejam íntimos, esse dia estará longe.
Abraço

Joaquim Rosario disse...

bom dia Dª Elvira
os seus contos são mesmo do melhor e pode ter a certeza os seus leitores quando lhe dão os parabéns , são muito verdadeiros e não só para lhe agradar.
viva o 25 de abril e a liberdade de expressão que trouxe aos Portugueses .
JAFR

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar o final de mais uma história.


Isabel Sá
Brilhos da Moda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei bastante e abençoado 25 de Abril.
Um abraço e continuação de boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Elvira
mais um conto muito bem escrito.
Gostei muito de ler.
Bom passeio
beijinhos
:)

_ Gil António _ disse...

Bom dia. Tudo na vida quando têm um final feliz é de louvar.
O amor vence sempre, diz o Poeta. Será que tem razão?
.
* Soneto escrito no escuro ... em versos de luz sombria *
.
Deixo um abraço amigo

Olinda Melo disse...


Uma decisão muito importante e corajosa numa época de tantas interdições.

Bj

António Querido disse...

Estou feliz por ser um dos Antónios bons na terra e mais ainda pela felicidade da Carlota.

O meu abraço

Rui disse...

Claro que gostei, Elvira.
Para além do conto, em si mesmo, mais um bom testemunho do que era viver naquele período, ente os anos 30 e os 70 do séc. passado.
mais uma vez de parabéns, Elvira.

Abraço e uma bom passeio de estudo !

Edum@nes disse...

Quem pelo menos na vida tem um dia bom. Não os tem todos ruins. Depois de muito sofrimento, Carlota encontrou a felicidade. Segundo consta no final deste conto vive feliz!

Tenha um bom dia amiga Elvira.
Um abraço.

lis disse...

Oi Elvira
Bom passeio e traga para nós imagens para que apreciemos toda a beleza do lugar visitado
E, o final foi feliz e isso supera toda a dor que Carlota viveu.
Adorei!
beijinhos

_ Gil António _ disse...

Passando a fim de desejar uma noite calma e feliz
.
* Soneto escrito no escuro ... em versos de luz sombria *
.
Deixo um abraço amigo

Meu Velho Baú disse...

Gostei muitoooo
O Amor tem destas coisas e quando se é Feliz...
Beijinhs

Os olhares da Gracinha! disse...

Uma vida preenchida com muitas emoções com um final feliz que eu gostei de ler! bj

Teresa Isabel Silva disse...

mais um conto que adorei acompanhar!

Bjxxx
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Roselia Bezerra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Roselia Bezerra disse...

Olá, querida amiga Elvira!
Lindo final pois ainda mais que o filho entendeu, eles sempre são empecilhos nos relacionamentos de uma segunda união... Conto com final feliz é que gosto de ler... De tristeza, já basta a vida real, algumas vezes, para alguns...
Tão bom ser feliz e lutar ainda que todo mundo fique contra!
O Amor tem poder próprio.
Seja muito feliz e abençoada junto aos seus amados!
Bjm de paz e bem

Tais Luso de Carvalho disse...

Não consegui acompanhar, amiga, mas uma hora que eu tiver tempo retomarei os capítulos para ler essa história.
Beijo.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Parabéns pela conclusão de mais um conto brilhante, que nos emocionou e fez com que almejássemos esse final lindo, feliz e merecido diante do sofrimento que Carlota experimentou. Amei!
Beijos carinhosos!

Gaja Maria disse...

Tudo está bem quando acaba bem :)
Abraço Elvira

Tais Luso de Carvalho disse...

Querida Elvira, acabei de ler essa história tão real, e por ser assim, foi emocionante até o final quando Carlota casou-se, finalmente com o homem que sonhou, e com a aprovação do filho. Chegou o divórcio em Portugal, finalmente. Aqui tem um programa de televisão que mostram casos reais, o sofrimento das famílias, mãe com filhas, sogras com noras, marido e mulher, enfim todos esses problemas que pensamos serem poucos e são centenas, milhares. É a vida como ela é.
Você narrou com uma maneira que prende, mostrou todo o sofrimento do abuso por que Carlota passou, o casamento jurando felicidade, a decepção enorme, as agressões do marido e tudo o mais. Desembocou no segundo relacionamento com o mecânico que foi perfeito.
Arre, amiga, parabéns pelo final feliz, pelo menos deu uma alegria para os leitores, uma esperança de que as coisas mudam e pode-se ser feliz.
Um lindo dia 8 de Março - o Dia Internacional da Mulher, que lutam, que sofrem, mas que acabarão provando do que somos capazes.

Beijo grande! Foi ótimo ter lido tudo junto.

Rosemildo Sales Furtado disse...

Para quem sofreu como a Carlota, não poderia haver final melhor para ela . Parabéns por mais um belo conto Elvira.

Braços,

Furtado

lourdes disse...

Antigamente havia muitos casos assim como o da Carlota. Meninas muito pobres, sem conhecimento nenhum da vida, abusadas pelos grandes senhores.
Um final feliz para a Carlota.